sábado, 24 de dezembro de 2011

Meu amor Diana ou: Um conto de natal

Na vida tem amores que vem e nunca vão embora. Cola no nosso coração. Acredito que quase todo mundo tem o amor assim. E no período natalino essas lembranças vêm com mais força. Eu devia ter dezessete anos quando conheci Diana. Morava no sítio com a minha família, no interior. Éramos eu e dois irmãos, além do meu pai e da minha mãe. Você sabe como é a vida no mato. Acordar cedo para a lida de sol a sol. À noite, extenuado, dormir cedo.

Conheci Diana quando consertava a porteira do sítio com o meu pai. Ela passou com o seu Ademar. Fiquei embasbacado.

- Que linda – pensei cá comigo.

Passei o resto do dia pensando em Diana. Ela não me saía da cabeça. Mesmo depois de quase duas décadas, um casamento e três filhos, Diana não me sai da cabeça. Sei que nunca poderíamos assumir o nosso amor nem ter filhos. Mas não consigo esquecê-la.

Não vou contar em detalhes como aconteceu a nossa aproximação. Mas o fato é que houve uma aproximação. Diana correspondia! Fazia malabarismo para vê-la. Toda a família dormia cedo. Eu esperava todos dormirem, pulava a janela com toda a cautela e ganhava o mundo. A nossa cadela, Soraia, nas primeiras vezes fazia um barulho danado, podendo acordar todos, mas depois se acostumou com as minhas escapadelas. Considerava-a minha cúmplice.

O próximo obstáculo era a porteira. Como fazia muito barulho ao ser aberta, tinha que pulá-la. E me embrenhava no mato. Do sítio do meu pai até o sítio do seu Ademar eram uns dois mil metros serpenteando as estreitas veredas. No início me arranhava nos gravetos, mas depois conseguia fazer o percurso de olhos fechados. Guiado apenas pelo coração.

- Tudo isso vale a pena – pensava eu no trajeto, no meio da escuridão.

E valia mesmo! Lá estava ela, embaixo de um juazeiro no terreiro do sítio. Linda! Apesar de escuro, enxergávamos o olhar um do outro. Acho que enxergávamos com o coração.

- Minha Diana! – ás vezes, durante o dia, deixava escapar com um suspiro.

Minha mãe andava preocupada comigo por causa das olheiras.

- Esse menino tá doente. Olha a cor dos ói dele – dizia a pobre para o meu velho pai.

- Coitados! – pensava eu. – Não sabem o que é amar.

As olheiras era o que ela conseguia enxergar. O que ela não conseguia ver me denunciaria: passava o dia com o pênis intumescido. De tão duro chegava a doer. Eu tentava disfarçar. Mas mais de uma vez meus irmãos perceberam e fui alvo da troça deles. Outras vezes, quando tinha oportunidade, celebrava uma ode a Onã.

Naturalmente que eu não podia tornar público o nosso amor. Iria nos expor ao ridículo. Eu e Diana. Então, dia sim, dia não, fazia o mesmo percurso até o sítio do seu Ademar. Todo sacrifício era recompensado.

Mas, como em todo relacionamento, nem tudo eram flores. Porém, nada que inviabilizasse a relação.

- Diana nunca expressa seus desejos, seja lá de que forma for. - vi-me mais de uma vez pensando.

Mas o que fazíamos quando estávamos juntos compensava esses pequenos contratempos. Era indescritível a sensação de está dentro de Diana, sentindo o calor do seu sexo. Mesmo tendo que sentir sem fazer barulho para não acordar a família do seu Ademar, a sensação era maravilhosa.

Escrevia declarações de amor para Diana, sempre às escondidas, claro. É certo que ela nunca me respondeu. Mas eu não me importava. Não tenho mais nenhum dos poeminhas que escrevi para ela nos dias em não nos encontrávamos. Minha mulher não entenderia.

Mais de uma vez, fui pego pelo meu pai devaneando na mesa do jantar.

- Que frescura é essa, moleque? Vai comer e depois deitar. Parece que tá variando.

Nada disso fazia arrefecer o meu amor por Diana. Era um amor sublime, puro, eu diria eterno. Mesmo nos momentos do sexo, nosso amor não perdia a pureza. Cheguei a fazer muitos planos para o nosso futuro, mesmo sabendo que não seríamos compreendidos.

- Ô Diana! Por onde andas minha deusa? – vez por outra me pego perguntando.

É no natal que sinto mais a sua falta. Passamos um natal juntos. Só um! Não trocamos presente, não tínhamos dinheiro para isso. Mas levei-lhe flores. Que ela comeu!

- Ah Diana! Você sempre foi muito espontânea.

Nesse dia, nos demos um ao outro da melhor forma possível. Foi meu melhor presente de natal. E não foi Papai Noel quem me deu. Foi Diana!

Hoje estou aqui. É natal! E as lembranças de Diana me torturam.

Você deve está se perguntando: como um amor tão sublime, que tinha tudo para dá certo, acabou? Por que você e Diana se separaram?

Deixo bem claro que o meu amor por Diana não acabou. Percebo que nessa época fica mais forte. Fomos arrastados pelas circunstâncias.

Seu Ademar comprou um caminhãozinho de segunda mão e chegou à conclusão que Diana não era mais útil para ele. Vendeu-a junto com a carroça.

Um comentário:

  1. Tenha certeza que Diana nunca te esqueceu e que continua te amando muito, muito, muito...

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