Já me disseram várias vezes que sou obcecado por livros. Já disse que minha relação com os livros é existencial. Pode parecer exagero. Mas é assim que sinto essa relação. Não creio seja obsessão. Mas sou feliz assim. Gosto da companhia dos livros. Gosto de cheiro dos livros, inclusive os usados. Gosto de tocar os livros. E, principalmente, gosto de lê-los. Mas, a meu favor, devo dizer que eles também me perseguem. Já existiram algumas oportunidades em que decidi me desligar temporariamente dos livros, algumas horas, pelo menos. E em algumas dessas ocasiões foram eles que vieram ao meu encontro, furtivamente, através de terceiros. Isso já aconteceu duas vezes durante as minhas férias, quando procuro diminuir o ritmo da leitura.
Ano passado, estava em Cabaceiras, a “Roliúde Nordestina”, na Paraíba, na Festa do Bode Rei. Era carne de bode de todas as formas e muito forró. De repente, vejo um sujeito de pé sobre um toco de madeira, vestido de cangaceiro, com vários exemplares do livro O martírio dos viventes. Quem estava sobre o toco era o próprio autor, Paulo Cavalcante, um professor de história nascido em Caraúbas, na Paraíba. O livro retrata a seca de 1992/93 na cidade natal do autor, com personagens e enredo que valoriza e resgata os costumes e as tradições do passado. Segundo o autor, O martírio dos viventes é um grito de alerta do sertanejo e uma busca para amenizar o sofrimento do sertão em secas futuras. Comprei.
Nesse ano, em junho, resolvi ir à praia de Tabatinga, em João Pessoa. Baixa estação, a praia estava praticamente deserta, as casas de veraneio, fechadas. Estava a muitos quilômetros da livraria mais próxima. Sentei-me no único bar da região, já que entre tomar sol e tomar cerveja, fico com a segunda opção. Era o único freguês do bar. Na segunda cerveja, o dono do bar puxa conversa. Pergunta se eu conheço Zé Laurentino, o poeta popular. Claro que eu conheço! Ele afirma que é genro do poeta e que estava vendendo sua Antologia Poética. Não gosto de poesia, mas me lembrei de um grande amigo que ler e escreve poesia. Livro é o presente que mais gosto de dá. Comprei.
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