A Miami do início do século XXI é
um caldeirão étnico e cultural, onde o americano WASP (acrônimo que em inglês
significa “branco, anglo-saxão e protestante”) disputa cada centímetro com os
latino-americanos. Esse é o cenário de Sangue
nas veias, ultimo romance do jornalista norte-americano Tom Wolfe,
publicado no ano passado. É nesse cenário que se destaca o patrulheiro Nestor
Camacho, filho de refugiados cubanos, aculturado a ponto de não mais falar o
espanhol.
Camacho tem um talento especial em se meter em encrencas raciais. Logo
no início ele resgata um sujeito em alto-mar, impedindo-o de chegar em terra
firme. Seria um herói se o “pobre coitado” não fosse um refugiado cubano que,
sem alcançar o objetivo, não pôde solicitar asilo político aos EUA. Transmitido
ao vivo pela TV, Camacho passa a ser visto como um traidor pela comunidade
hispânica e como herói pelos colegas de farda. Logo depois, ao prender
traficantes negros, agride os criminosos com ofensas racistas. É salvo da
demissão pelo chefe de polícia negro.
Em paralelo, temos as histórias
da ex-namorada de Camacho e seu patrão e amante, um psiquiatra celebridade que
alimenta a compulsão sexual de um dos seus clientes para usá-lo como trampolim
social; um pintor russo especialista em falsificações; um magnata também russo
que usa as falsificações para se promover; o editor branco do Miami Herald que não quer confusão para
o seu lado; e o chefe de polícia negro que salva a pele de Camacho.
Mas o livro tem seus pontos
fracos. Na realidade, o texto do Wolfe apresenta pontos fracos. O pior deles é
o uso excessivo de reticências e onomatopeias. Nos casos das reticências, a
impressão que fica ao leitor é que a leitura de um pequeno trecho vem acompanho
de uma “freada”. Para e começa depois
para logo mais frear de novo. E as onomatopeias são simplesmente desnecessárias
para a compreensão do texto: “Ela deu um
sorriso sugestivo, enquanto seguia DANÇANDO tummm REBOLANDO tummm DESCENDO
tummm SUBINDO tummm BOMBEANDO tummm e também girando em torno do poste”.
Independente desse pequeno
“deslize”, vale a pena ler o livro.
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