Deu nas rádios, na televisão, na internet, nos jornais impressos: um meteoro irá se chocar contra a terra nos próximos dias, destruindo-a completamente. Não há possibilidade de vida humana após o impacto.
- Putz, fudeu!
Dado estava paralisado diante da notícia. A quem recorrer? A Deus?
- Mas se a humanidade vai acabar Deus acaba junto. Ou não? – refletiu Dado.
O que fazer? Extravasar? Fazer tudo o que tem vontade? Realizar os mais recônditos desejos carnais? Ou manter um restinho de vida virtuoso na esperança de ir para o céu?
- Mas o céu também acaba imbecil! – pensou – E o inferno também. – pensou de novo, agora mais alegre.
Achou melhor buscar esperanças na realidade.
- Quem sabe não existem mísseis preparados para destruir o meteoro quando ele se aproximar perigosamente da Terra?
Lembrou que viu na TV especialistas falando que se todos os mísseis que existem nos arsenais bélicos do planeta fossem disparados contra o infeliz, ainda assim não seria suficiente para destruí-lo, por causa do seu tamanho estratosférico.
- Estou fodido! – para logo depois concluir – Não só eu.
Resolveu pensar em outra possibilidade.
- Por essas horas os americanos, prevendo que um dia isso poderia acontecer, já devem ter desenvolvido um foguete que leve exemplares humanos para algum lugar seguro. – animou-se de vez. – A lua ou algum outro planeta que eles mantiveram em segredo para emergências desse tipo.
Para logo depois desanimar.
- Exemplares humanos?
Seria dado um exemplar humano digno, do ponto de vista dos americanos, de embarcar no tal foguete de Noé?
- Tá complicado. Para que eles vão querer um moleque de 20 anos, brasileiro, que nem conseguiu terminar o ensino médio e é ajudante de mecânico numa oficina de fundo de quintal? - Pergunta-se o angustiado Dado.
– Para fazer a manutenção do foguete, uai! – encontra a resposta o agora animado Dado.
- Mas para isso eles têm os engenheiros. – concluiu o agora desanimado Dado.
Quem sabe eles não vão precisar de reprodutores para recomeçar o povoamento do novo planeta? Afinal, não poderão levar todos, apenas poucos exemplares.
- É, mas para isso eles devem ter grandes, loiros e saudáveis jovens americanos e europeus. – desanimou-se Dado novamente.
Achou melhor procurar Bel, sua namorada dos tempos de adolescência.
- Belzinha, meu amor, você já deve ter ouvido as noticias na televisão. – anunciou Dado, com uma tristeza de Bull dog estampada na cara. – Temos que conversar sobre nós. Aliás, sobre mim.
- Eu vi, meu amor – respondeu Bel, com uma tristeza de Rapunzel na torre estampada na cara. – Precisamos conversar sim.
- O mundo vai acabar e eu não gostaria que esse dia chegasse sem que você soubesse algumas coisas a meu respeito. – Falou Dado, nervoso.
- Eu também tenho que te falar algumas coisas a meu respeito. – falou Bel, igualmente nervosa.
- Você fala primeiro?
- Sim – Bel esfregava nervosamente as mãos uma na outra, hesitante – Eu trai você com Valter... Algumas vezes.
- Eu sei – apressou-se Dado – E eu gostava... Apesar de sentir ciúmes. Essa era uma das coisas que eu queria te dizer.
- E qual a outra? – perguntou Bel.
- Continue. Depois eu falo.
- Eu gostava de transar com Valter por que ele me batia. Eu gosto de fazer com sexo com violência. E não tinha medo de falar pra você e você achar estranho.
- Deveria ter falado. Eu até gosto de bater. Eu não acharia nada demais. – falou Dado com um risinho sem graça.
- Não?
- Claro que não. – falou Dado calmamente – Vejo que foi necessário o fim do mundo se aproximar para que pudéssemos nos conhecer.
- É. – falou Bel, triste. – E você? O que tem para me dizer?
- Você lembra do Cesinha?
- Sim, lembro.
- Nós sempre fomos muito amigos. Na realidade, tivemos uma amizade mais que especial. – Dado estava de cabeça baixa.
- Especial? De que tipo?
- Do tipo que você imagina... Ou queira imaginar.
- Não há problema nisso. Você poderia ter me falado. Quem sabe...
Dado olhou-a com um olhar misto de surpresa e felicidade.
- Eu e a Karina tivemos uma amizade, digamos, especial. – falou Bel.
- Foi? Por que você não me disse? Quem sabe...
- Pois é. Parece que perdemos muita coisa. Parece que estávamos juntos, no entanto separados pelo medo um do outro. – Bel falava enquanto de aproximava de Dado e o abraçava.
- Vamos esperar o meteoro.
- Será que dá tempo? – Dado sentia o cheiro único de Bel.
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