- Oi.
- Oi.
Os dois se encontraram num bar da moda. O calor sufocante do ambiente e a fumaça espessa de cigarro, foram amenizados pelos olhares de desejo e sedução trocados por ambos. Pareciam dois profissionais da conquista. Pareciam? A aproximação foi calculada por ambas as partes. Sem trocar uma palavra, beberam dois drinks e ele a convidou para irem para um “lugar mais tranqüilo”. Era a senha! Foram para um motel de categoria mediana onde estavam agora.
- Meu nome é Derick. Prazer.
- Jennifer.
O silêncio reinou por embaraçosos segundos. Jennifer começou a buscar suas roupas espalhadas pelo quarto. Derick permanecia sentado à beira da cama.
- Eu gostei muito de tudo. – Falou Derick, embaraçado, procurando algo para dizer.
- Eu também. – Falou Jennifer, sem parar de procurar suas roupas. - Eu preciso ir. Foi 600 reais.
- Como? Não entendi...
- O programa custou 600 reais. Eu cobro 150 reais à hora – Jennifer demonstrava impaciência.- O dia já deve tá amanhecendo, preciso dormir.
Derick não consegue esconder a sua surpresa.
- Espera ai!! O profissional aqui sou eu. Eu cobro 150 à hora. Mas eu saí com você por que eu quis. Por que tava afim. – Fala Derick levantando-se da cama e apontando o próprio peito.
- Mas eu estava trabalhando – Jennifer fala com tranqüilidade.
Derick vai até o frigobar e pega uma cerveja.
- Quer?
- Não bebo em serviço.
Derick olha fixamente para a parceira. Toma um gole da cerveja e a coloca sobre o frigobar.
- Deixa de palhaçada!
- Não é palhaçada. O fato é que eu não bebo quando estou trabalhando. Eu sou uma profissional do sexo!
- Que trabalho o que? Você é uma puta! – Fala Derick com irritação.
- E você é o que? Seminarista? – Jennifer fala com ironia, sem parar de vestir sua roupa. - Se eu sou puta, você é um puto!
Derick resolve se vestir também. Mas não consegue esconder a indignação
- Você falou que me amava!
- Por 150 a hora, rola até amor verdadeiro, meu bem.
- Você é cínica! – Falou Derick enquanto vestia a calça.
Derick enrosca a calça na perna na hora de vestir e cai sentado sobre a cama. Jennifer rir dissimulado e cruza os braços, vendo a cena. Derick desiste de pôr a calça e senta, com os cotovelos apoiado nos joelhos.
- Desculpa. É que você me pegou de surpresa. Você tem certeza do que você me falou?
- Do que? De ser puta ou de te cobrar 600 reais?
- Dos dois. É que e gostei sinceramente de você. Não vim pelo dinheiro.
- Então deixe essa parte comigo. – Ironizou Jennifer.
- Por que você é puta? – perguntou Derick, mostrando incredulidade.
- Talvez pelas mesmas razões que você é também – falou Jennifer, ligeiramente irritada – É trabalho, meu bem, como qualquer outro. Preciso de dinheiro.
- Não é não...
- É sim! – interrompeu ela – E o mais antigo da humanidade, se você quer saber.
- Não é não – Repetiu ele de forma irônica – Quem pagava devia ter um trabalho mais antigo. – Deu uma risadinha meio sem graça.
- Besteira! Nos tempos antigos, puta mandava mais do que ministro. O Cristianismo é que veio estragar tudo.
- Como você sabe tudo isso? – Perguntou ele, curioso.
- Meu professor de história era meu cliente.
Derick riu. Ainda continuava sentado, com as calças abaixo dos joelhos.
- Nunca tive nenhum professor meu como cliente. Mas tenho muitos clientes homens e casados.
- O mundo é gay, meu bem. Atendo uma porrada de casal. Na maioria das vezes eu transo com ela, não com ele.
Derick dá mais uma risadinha e resolve se vestir.
- E ai? Não dá pra rever esses 600 reais? Vim por que gostei de você.
- Mesmo cobrando, eu só transo quando gosto do cliente. Gostei de você. 600 reais!
Ele coloca a mão no bolso e tira uma porção de notas amassadas. Conta e reconta. Não chega a metade do cobrado por Jennifer. Olha pra ela:
- Como sinal de que vim por que gostei de você, vou falar meu nome verdadeiro. Me chamo Valdemir.
- Orineide, prazer!
Derick dá uma sonora gargalhada.
- Seu nome é Orineide?
- Você já viu puta como nome de Orineide? – Falou ela com uma ponta de irritação – Isso é nome de empregada doméstica ou de garçonete de boteco de terceira. O seu nome não é muito bonito também não.
- É o nome do meu pai. Sou Junior – Falou o agora Valdemir, um pouco constrangido.
- Mau gosto em dose dupla. – falou a agora orineide, sentando-se ao lado de Valdemir.
Valdemir coloca sua mão sobre os joelhos de Orineide. Ambos estão sentados na cama. Se olham. Ela pergunta:
- E ai? Vamos nos ver novamente?
- Quem paga quem? – pergunta ele com um sorriso cínico nos lábios.
- A gente discute isso da próxima vez.
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