Tadeu pegou Isabel na frente da escola. Apesar de ateu, resolvera matricular a filha numa escola evangélica. Mas não escondia de ninguém seu ateísmo e seu descontentamento com algumas atividades da Igreja, sempre voltadas para a prática protestante, o que era natural em se tratando de uma escola protestante. Quando questionado pelo fato de matricular a filha numa escola de orientação religiosa, Tadeu limitava-se a reconhecer a competência daquela escola em ensinar a sua filha o que ela necessitava aprender.
Se bem que Tadeu era um ateu sarcástico. Em matéria de religião não levava nada a sério, nem o seu ateísmo. Quando questionado por que era ateu respondia:
- Um indivíduo chamado Tadeu, tem que ser ateu, nem que seja por obrigação da rima. – E calava-se.
Quando discutia assuntos religiosos com quem quer que seja, falava sardônico, sem medo de ofender o interlocutor:
- Religião é uma questão de fé. Umas fedem mais, outras fedem menos. Mas todas fedem!! – E calava-se.
Isabel tinha onze anos e fazia o 6º ano. Gostava da escola em que estudava. Tadeu percebia, com indiferença, que a filha tinha uma leve simpatia pela religião protestante. A indiferença de Tadeu era motivada pelo fato de, na idade dela, ele próprio ter alimentado o sonho de ser padre. Dentro do carro, no trajeto para casa, Tadeu pergunta a filha:
- Como foi a aula, filha?
- Bem. – Responde, lacônica, Isabel.
- Hum.
- Pai, hoje foi na escola um pastor africano.
- Foi, filha? E o que ele disse?
- Sei lá! Ele falava só em inglês.
- Ué! Não tinha um tradutor?
Isabel Balança negativamente a cabeça.
- Curioso, não? – Fala Tadeu.
- Eu nunca tinha ouvido falar em pastor africano – Diz Isabel.
- Nem eu. – disse Tadeu – Somente em pastor alemão.
A filha percebe o tom irônico da frase do pai e ri, também com ironia.
- Pai, não estou falando desse pastor. Esse não ora, nem ler a Bíblia, nem faz sermões - Fala Isabel com uma falsa indignação.
- Besteira, filhinha. Se ensinar ele aprende tudo isso rapidinho. – E calou-se.
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