O jornalista baiano Fernando Vita é um escritor divertido. Em
dezembro de 2012 falei sobre o divertidíssimo Cartas anônimas, romance publicado em 2011. Agora é a vez de O avião de Noé, publicado no ano
seguinte e que tem como cenário a mesma Todavia, cidade fictícia do interior da
Bahia onde é ambientado o romance anterior. Na verdade, Vita aborda temas
sérios de maneira hilária. E o livro começa exatamente no dia do jogo Brasil e
Suécia pela Copa de 1958, com a explosão da fábrica clandestina de fogos de
artifício de Antônio Trovão das Mortes, conhecido como Bigorrilho Fogueteiro, matando
várias pessoas, mas que todos pensavam que era a comemoração da vitória do
Brasil.
Depois vem o lançamento do uísque Caxias, com a presença das
mais altas e omissas autoridades de Todavia, galhardamente convidadas para a
festa no Tênis Clube Social Todaviense. O problema é que Vinícola Caxias só
sabia fazer (e mal!) vinagre e conhaque de alcatrão. O resultado? Uma ressaca
generalizada em Todavia que paralisou a cidade por dias e provocou a ira do inglês
comprador de fumo para exportação, o único na cidade que entendia de uísque. É no que dá pensar-se que a água da Fonte de
Santinho é igual à das terras altas da rainha; que milho de canjica é o mesmo
que malte escocês, bradou o súdito da rainha.
Mas
o episódio principal da história e que dá título ao livro é a tentativa de Noé,
um sujeito que conserta utensílios domésticos e que, inspirado num sonho em que
a lua enganchava na torre da igreja e ele ia de helicóptero solta-la, resolve
construir um aparelho semelhante ao do sonho com sucata recolhida nas ruas de
Todavia. A empreitada de Noé, que tem tudo para dá errado, é apenas um pretexto
para Fernando Vita desfiar seus personagens hilários, como o prefeito sempre
ausente; seu primo Roberto, uma figura engraçadíssima; o Monsenhor Galvani, hora
representando a autoridade eclesiástica, hora o bobo da corte; o jornalista que
faz oposição ao prefeito; Dodô da Bicicleta, Edgar Barbeiro; Zeca Mefessi; Nego Mário; Tozinho;
Faustino; Paulo Sóter; Ludovico; Bomfim Mercês.
Se prepare para rir muito!