sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014
O herói discreto – Mario Vargas Llosa
Depois de O sonho do celta, de 2010, um romance marcado pela tristeza, Mario
Vargas Llosa volta com O herói discreto, de
2013, um livro que tem a marca da lealdade e da ética estampadas em seus
personagens principais. Situando sua ação em Lima e em Piura, duas cidades
muito importantes na trajetória pessoal e literária do autor, o livro corre com
duas histórias paralelas que, em algum momento, irão se encontrar. Os
protagonistas das histórias são Felícito Yanaqué, empresário do ramo dos
transportes, e Ismael Carrera, proprietário de uma corretora de seguros.
Felícito, empresário próspero e
trabalhador pouco instruído que vive na cidade de Piura, num determinado dia
recebe uma carta anônima com ameaças exigindo-lhe pagamento de uma taxa mensal
para que nada aconteça a ele, à sua e aos seus negócios. A denúncia da
chantagem à polícia vai dar origem a uma investigação cheia de percalços e
surpresas. A quase mil quilômetros dali, Ismael Carrera, um bem sucedido dono
de uma companhia de seguros resolve casar novamente, aos oitenta anos, com a
sua empregada. O gesto de Ismael não é motivado apenas pelo amor, mas como uma
forma de diminuir a parte na herança dos seus filhos gêmeos que levam uma vida
desregrada e que torcem pela morte do pai.
Entre esses dois personagens está
Rigoberto que, aos 62 anos, decide se aposentar antecipadamente para gozar
melhor a vida ao lado da sua bela esposa, Lucrecia. O problema é que Rigoberto
irá ser testemunha de casamento do seu patrão e amigo Ismael, o que atrai a ira
dos filhos gananciosos deste. Em paralelo, Fonchito, filho adolescente de
Rigoberto, mantém uma “amizade” com Edilberto Torres, que pode ou não existir,
dilema que tira o sono de Rogoberto e Lucrecia. Um livro com enredo simplista e
farsesco, mas que leva a “grife” Mario Vargas Llosa. Bom de se ler... segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
Cinema nacional: Meu amigo Cláudia
Dos muitos documentários que
assisti Meu amigo Cláudia (2009), do
diretor estreante Dácio Pinheiro, é um dos mais impactantes e esclarecedores. Cláudia
Wonder, nascida Marco Antônio Abrão em 1955, tonou-se uma das artistas
brasileiras mais importantes da cena underground nas décadas de 80 e 90. Se
isso não bastasse, tornou-se ativista política nos anos 2000, ganhando
notoriedade como líder do movimento em prol do livre exercício da diversidade
sexual, se envolvendo na criação do Centro de Referência da diversidade, em
parceria com a Prefeitura de São Paulo. Cláudia morreu em novembro de 2010 em
decorrência de uma infecção causada por fezes de pombo.
O documentário conta a história
de Cláudia a partir de seus depoimentos e de pessoas próximas, como Leão Lobo,
José Celso Martinez Corrêa, Kid Vinil, Sérgio Mamberti e Glauco Mattoso. Traça
sua trajetória desde sua origem, quando seu pai mandou prendê-la por ser
homossexual; passando pelo primeiro filme pornô com travesti, Sexo dos anormais, que ela protagonizou;
e participação em peças de teatro de Zé Celso Martinez e longas, como O marginal. O filme também mostra sua
veia musical nos anos 80, ao se mostrar como vocalista das bandas Jardim das delícias e Truque sujo e lançar seu CD solo, 2007.
O filme é realmente impactante ao
mostrar como um travesti conseguiu “cavar” seu espaço no cinema, no teatro e na
música, mas não apenas isso. Como militante no movimento Diretas Já, nos anos 80, e pelo direito às
relações homoafetivas, nos anos 2000, Cláudia Wonder teve papel fundamental. O
filme é esclarecedor, pois mostra como a homofobia, que contamina nossa
sociedade ainda hoje, foi muito pior a menos de trinta anos, como mostra uma
reportagem do Programa Globo Repórter, da Rede Globo, de 1985, quando os
entrevistados diziam sem “cerimônias” que os travestis tinham mesmo que ser
mortos pois, “poluíam” a cidade. Vale a pena ler a crônica de Caio Fernando
Abreu que deu nome ao documentário. sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014
O fator humano – Graham Greene
Quando se fala de um livro de
espionagem logo imaginamos um espião sex, armas sofisticadas, carrões velozes
muitas perseguições espetaculares e mulheres sedutoramente sex. O fator humano, de 1978, do inglês
Graham Greene, não tem nada disso, mas não deixa de ser um romance de
espionagem de primeiríssima linha. Um dos méritos de Greene é dá um foco maior ao
lado psicológico dos personagens em detrimento das suas ações. Portanto, as
reações inesperadas e as decisões moralmente condenáveis pululam as páginas do
livro.
Maurice Castle é um ex-diplomata
que trabalha na burocracia da Agência de Inteligência e é casado com Sarah, uma
belíssima sul-africana negra que conheceu na época em que serviu na África do
sul como diplomata. Davis divide com Maurice o escritório da Inteligência, mas
sonha em ser promovido a espião de campo. No entanto, paira sobre Davis sérias
suspeitas de traição. Mas o vazamento de uma informação vai transformar
drasticamente a vida dos dois colegas de trabalho.
Outro grande mérito de Greene é
não deixar a trama descambar para um maniqueísmo descabido. É impossível
distinguir mocinhos de bandidos (se é que eles existem na trama de Greene). Um
livro de espionagem, cuja trama gira em torno do amor entre um espião e sua
belíssima esposa, não é um livro qualquer. É um livro de um gênio da narrativa,
cuja trama dá mais importância às pessoas do que às estratégias políticas sem,
no entanto, deixar de ser um livro de espionagem. Um clássico! segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
Cinema nacional: Reidy – a construção da utopia
O documentário Reidy: a construção da utopia (2010),
dirigido por Ana Maria Magalhães, trata da trajetória, estritamente
profissional, de Affonso Eduardo Reidy (1909-1964), arquiteto e urbanista
nascido na França, filho de mão brasileira e pai inglês. A diretora, atriz
bastante ativa nos anos 70, estreou na direção de longas de ficção com o
desastroso Lara, de 2002, e parece
não ter tido melhor sorte nessa nova empreitada.
A princípio, o documentário pode ser
considerado um filme acadêmico, voltado para arquitetos, por causa de sua
narração institucional e monótona e suas inúmeras legendas explicativas. Como o
avançar da narrativa possível a inclusão dos simples mortais, quando começam a
surgir imagens de monumentos conhecidos do Rio de Janeiro e que tem a
assinatura do arquiteto homenageado, como o Museu de arte Moderna e o Aterro do
Flamengo.
Apesar de Reidy ser considerado
um utópico (e acho que a utopia não se separa da poesia), Ana Maria Magalhães
conseguiu fazer um filme mais técnico do que poético. Quem não é da área se
sente um pouco perdido entre tantos termos técnicos. O personagem-título do
documentário é interessante, faltou à direção do filme tato para conduzi-lo de
forma que atingisse o grande público. Um filme chato! sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014
O diamante do tamanho do Ritz e outros contos – Francis Scott Fitzgerald
Francis Scott Fitzgerald (1896-1940)
dispensa apresentação, então vamos direto ao livro. Os três contos que compõem O diamante do tamanho do Ritz e outros
contos foram escritos entre 1920 e 1922, época em que o autor vivia uma
constante festividade hedonista, regada a festas, bebidas e mulheres. Com um
humor ferino, nesses contos, de forma velada, Fitzgerald faz críticas à
superficial alta burguesia dos Estados Unidos dos anos 20. Uma crítica precisa,
mas não pesada, agradável de ser lida, mas nem por isso desprovida de conteúdo.
O primeiro dos contos, O diamante do tamanho do Ritz, escrito
em 1922, tem como protagonista John T. Unger, um jovem provinciano que, na escola,
torna-se amigo de um misterioso rapaz, Percy Washington, que afirma que o pai
tem um diamante do tamanho do Ritz. Curioso, Unger resolve acompanhar o rapaz
durante as férias para verificar a autenticidade da história. A mansão da
família Washington fica num local que não consta nos mapas oficiais, anonimato
mantido a custa de subornos. Um conto fundamental para entender os conflitos
que perturbavam a cabeça do autor.
O segundo conto, também de 1922, Bernice corta o cabelo, apresenta a
personagem-título como uma moça provinciana que vai passar férias na casa da
prima, uma jovem badalada que vive de festas na Era do Jazz. Com dificuldades
para se misturar aos novos amigos, Bernice recebe dicas da prima e muda sua
aparência, passando a fazer mais sucesso do que ela, traindo para si a inveja
da jovem. Um mergulho no universo das jovens da era do Jazz, com suas vazias
existências, presas a status e busca
inglória por popularidade.
Por último o conto O palácio de gelo, de 1920, onde
encontraremos o casal Harry e Sally Carrol, ele de origem nortista, ela,
sulista. Sempre flanando pela cidade, vão discutindo as diferenças entre a vida
provinciana e a vida na cidade grande. Nos três contos, a inquietação de
Fitzgerald a serviço da boa literatura...
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
Cinema nacional: Mato sem cachorro
A história de um casal cuja
relação se constrói em torno de um cão, Guto, que desmaia diante de fortes
emoções. Esse é o ponto de partida de Mato
sem cachorro (2013), dirigido por Pedro Amorim e roteiro de André Pereira. Deco
(Bruno Gagliasso) e Zoé (Leandra Leal) são donos de Guto, um cão narcoléptico.
Deco é um carioca preguiçoso, imaturo e dependente dos pais que, depois de
levar um fora da amada, resolve sequestrar o cão com a ajuda do primo, Leléo
(Danilo Gentili).
Apesar do enredo banal, podemos
dizer que Mato sem cachorro merece
uma chance por trazer algumas particularidades, como os coadjuvantes de luxo
(Sandy, Sidnei Magal), referências pops, como Cláudia Ohana e referências a
outros filmes, como Cidade de Deus. Sem
contar que o roteiro consegue desenvolver pequenas tramas que prendem a atenção
do espectador. Como comédia, aí sim, não espere rir a cada dois minutos. O
personagem caricato de Gagliasso não empolga e a personagem de Leandra Leal é
apenas graciosa e simpática.
Mas e os comediantes de verdade,
Danilo Gentili e Rafinha Bastos? Estamos acostumados com o engraçado gentil na
TV, mas não o encontramos no filme. Talvez pelo roteiro, que não lhe permite
fazer piadas sobre política e governo, que é o seu forte. Já Rafinha Bastos
interpreta um veterinário e nada mais sem graça do que um veterinário. O longa
não é um “filmaço”, mas merece uma chance... sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014
Tudo o que tenho levo comigo – Herta Müller
Quando a escritora Herta Müller
foi agraciada com o prêmio Nobel de Literatura, em 2009, o leitor brasileiro
não via motivos para isso, afinal, até então, somente um livro da autora havia
sido publicado no Brasil. Com a publicação no Brasil de Tudo que tenho levo comigo, mais em consequência do prêmio, o
leitor brasileiro viu que o Nobel era mais do merecido. Tudo bem que a Academia
sueca leva mais em consideração as posições políticas do que a produção
literária dos seus laureados, mas no caso de Müller, que tem um histórico de
perseguições políticas em seu país, o que a obrigou a fugir para a Alemanha, o
prêmio também se justifica pela sua produção.
Herta Müller nos mostra que as
barbaridades não acabaram com a derrota nazista ao fim da Segunda guerra
Mundial. Os russos, com a justificativa de punir os alemães pelos crimes
cometidos durante a guerra, começam a perseguir a minoria alemã que vivia na
Romênia, então sob domínio russo. Leo Auberg, narrador do livro, é um
adolescente que pertence a essa minoria, que é mandado para um campo de
trabalhos forçados para expiar os crimes nazistas. A vida de Leo não era nada
fácil: de origem alemã, etnia perseguida pelos russos; e homossexual, prática
criminalizada no país que outrora fora dos czares.
Um enredo que não teria nada de
excepcional se não fosse a capacidade da autora de criar imagens, como a do
Anjo da Morte, uma “entidade” que decide que vai morrer e quem vai viver dentre
aqueles prisioneiros que viviam numa situação limite, golpeados pela fome, pelo
frio e pelos trabalhos exaustivos. Um livro quase biográfico, pois foi baseado
em relatos de sobreviventes desses campos, entre eles a mãe da autora que, como
Leo Ausberg, passou cinco anos numa campo de trabalhos forçados. Um livro que
justifica o prêmio.
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014
Cinema nacional: Sexo, amor e traição
O longa do diretor de televisão
Jorge Fernando é um “abrasileiramento” do filme mexicano Sexo, pudor e lágrimas, um sucesso no seu país de origem, assistido
por mais de 6 milhões de espectadores. Sendo apenas uma versão brasileira de
uma fórmula já vista e repetida à exaustão, não dá para esperar muita coisa de Sexo, amor e traição (2003). O filme é a
cara da televisão! Se já não bastasse a direção de Jorge Fernando, um
profissional identificado com a TV, a produção é de Daniel Filho, outro
profissional identificado com a telinha, o elenco é global e o filme foi rodado
pela Globo Filmes. Ou seja, é quase uma novela.
O escritor Carlos (Murilo
Benício) e a fotógrafa Ana (Malu Mader) são casados, moram no sétimo andar de
um edifício e não fazem sexo há três meses, causa da crise entre ambos. O
motivo: Carlos está muito “envolvido” no seu livro. No edifício em frente,
vivem a ex-modelo Andréia (Alessandra Negrini) e o publicitário Miguel (Caco
Ciocler), que formam um casal também em crise por que a beldade acha que o
marido só a quer para se exibir para os amigos.
Cenário perfeito para Tomás
(Fábio Assunção), ex de Ana, e Cláudia (Heloísa Perrissé), ex de Tomás,
entrarem em cena e criar uma série de confusões. O desfecho é previsível como
final de novela: depois de uma onda de infidelidades, separações e
reconciliações, todos serão felizes para sempre. Um filme dispensável...