segunda-feira, 30 de abril de 2012
Dilemas de um vegetariano
sábado, 28 de abril de 2012
Eu já sabia
sexta-feira, 27 de abril de 2012
O STF ou: O boteco do Birica
quinta-feira, 26 de abril de 2012
Entre letras e cifrões
quarta-feira, 25 de abril de 2012
O clube dos 30
terça-feira, 24 de abril de 2012
A caça aos incautos
segunda-feira, 23 de abril de 2012
Por que delas é o reino dos céus*
- Tenho.
- Desse jeito, vocês vão me fechar toda a porta e aí como é que os fregueses vão entrar? – Grita o seu Mariano atrás do balcão. Os pêlos do meu braço se arrepiam. Como é que pode? É a mesma frase que ele gritava pra gente trinta anos atrás, quando nos sentávamos ali na porta, toda a molecada, depois do futebol, pra tomar um refrigerante qualquer em copos descartáveis que ele nos dava pra não ter de lavar tantos copos depois.
Eles não nos tinham percebido e nós, a eles, também não, entretanto, com o barulho da batida, os meninos do outro bairro, nossos maiores inimigos, que estavam jogando futebol justo ali, na esquina da próxima rua, pararam com a bola e foram ver o que tinha acontecido. Era muita sorte pra eles. Eu ali, no meio do bairro deles, caído no chão e com a perna quebrada. Nem em seus maiores delírios eles imaginavam um milagre desses, nem em suas orações mais fervorosas eles tinham coragem de pedir a Deus que realizasse tamanho milagre, e, no entanto, era eu mesmo lá. Foram se aproximando devagar, feito hienas, feito ratos, feito vermes. Não sentia medo, há poucos dias tinha assistido ao filme Warriors, Guerreiros da Noite na televisão e estava pronto para morrer representando minha Gang. Não fechei os olhos ou tremi, contudo num determinado momento eles pararam, ficaram todos quietos no meio da rua. Eu não entendi. Esperava a surra, a depredação, o linchamento, a morte e nada disso vinha. Então olhei pra trás e lá estava Ele, a testa sangrando, mas imenso, com um pedaço de pau enorme na mão. Depois de alguns minutos um dos meninos gritou:
- Vem pra você ver o que te acontece.
Ele fez mais uma ameaça com o pedaço de pau e o menino saiu correndo em disparada. Então se abaixou e me pegou por baixo dos braços, de frente e me sorriu esse mesmo sorriso de agora e... por Deus... não pude entender mais nada e chorei... chorei... chorei... como nunca tinha chorado nem na frente do espelho e muito menos na frente de quem quer que fosse.
sábado, 21 de abril de 2012
O aborto, segundo Veríssimo
sexta-feira, 20 de abril de 2012
Suplicy e seus ídolos
quinta-feira, 19 de abril de 2012
O guardião de memórias – Kim Edwards

Durante uma violenta tempestade de neve no inverno de 1964, o Dr. Henry é obrigado a fazer o parto dos seus filhos gêmeos. O menino, o primeiro a nascer, é perfeitamente saudável. A menina, logo o médico percebe, é portadora da síndrome de Down. Diante desse fato, Dr. Henry pede para que a sua enfermeira, Caroline, entregue a criança para adoção e fala para a esposa que a criança faleceu. Sensibilizada, a enfermeira decide sair da cidade e criar o bebê, Phoebe, como se fosse sua filha.
Esse é o ponto de partida de O guardião de memórias de Kim Edwards. A atitude do Dr. Henry irá provocar um imenso vazio em Norah, sua esposa, que nunca irá se recuperar da perda da filha. A partir daí, uma intricada rede de mentiras, traições e segredos se desenrolam. Durante o resto da sua vida, o Dr. Henry vai viver em conflito, dividido entre contar ou não à sua esposa o que realmente aconteceu. Sendo traído por Norah, não irá recrimina-la, como forma de recompensá-la oela sua atitude no passado.
O livro tem tudo para ser meloso. Mas não é! Com uma trama tensa e cheia de surpresas, O guardião de memórias emociona. Tem uma construção bem amarrada, personagens de um realismo pouco visto e, acima de tudo, uma capacidade de prender o leitor do início ao fim. O livro tem o poder de nos mostrar o profundo significado das nossas escolhas. É um livro que vale a pena não apenas ler, mas devorar página a página.
quarta-feira, 18 de abril de 2012
Tempo, tempo, tempo

Tempo, tempo, tempo. Dias, meses, anos e décadas. Três décadas. No escuro, o tempo cessa de ser tempo e o espaço de ser espaço. Como será o tempo pra quem não é mais? Mas onde estarás? Estarás no escuro? Pra quem fica o tempo voa. Típico das abstrações. Para onde o trânsito o terá levado? Da voz, quase nada. Do olhar, apenas uma 3X4. Do caminhar, apenas as pernas finas e ligeiramente tortas, a fragilidade infantil. Das brincadeiras, muitas lembranças. Futebol, pião, bola de gude, carrinhos de ferro, falco, correria na escola. Para onde o trânsito o levou?
Tempo, tempo, tempo. As vestes da imortalidade não nos pertencem. Restam-nos a enormidade da morte e as vagas lembranças que o tempo não conseguiu varrer. O que teria sido da pequenez da vida se não fosse a máquina fatídica? Filhos, família, cidadão modelo? Nunca saberemos! O tempo não anda pra trás. Anda incólume, sorrateiro, invencível, rumo ao desconhecido. Para ti, a barca cruzou o rio. Fiquei a olhar a correnteza. Por ela vi passar brinquedos, brincadeiras de criança, desavenças logo vencidas pelas avenças.
Tempo, tempo, tempo. Por onde andas? O que terá sido de ti? Nunca saberei! Ou saberei? Nunca saberás das novas gerações. Ou sabes? O que teria sido dessas três décadas se a imprudência não tivesse cruzado o teu caminho? Carro, casa, emprego, faturas? Nunca hei de saber! Planos para uma vida não vivida. Para ti, o tempo deixou de ser tempo. O espaço deixou de ser espaço. Não verás nada passar. Hoje, hoje, hoje...
terça-feira, 17 de abril de 2012
Os 3

O filme dirigido por Nando Olival, lançado no ano passado e tendo três estreantes como atores principais, é mais profundo do que parece ser. Basta assisti-lo com o olhar um pouco aguçado e observar os detalhes. O filme conta a história de três estudantes: Cazé (Gabriel Godoy), Camila (Juliana Schalch) e Rafael (Victor Mendes) se conhecem no primeiro dia da faculdade de jornalismo e decidem dividir apartamento. O projeto de conclusão de curso do trio consiste num reality show via internet, no qual é possível comprar os produtos usados pelos participantes que são vigiados 24 horas por dia.
O roteiro é apimentado com um detalhe: os três acabam virando cobaia do próprio projeto surgindo, daí, o pretexto para um viés dramático na trama. Rafael (que narra a história) nutre um sentimento confuso com relação aos outros dois. Ao mesmo tempo em que se diz apaixonado por Camila e tem ciúmes dela com Cazé, não consegue se separar dos dois. Quando o trio começa a criar situações para aumentar o número de acessos ao programa na internet, Rafael começa a se questionar o que é ficção e o que é realidade numa vida midiática.
A vida do trio trancado num apartamento e monitorada 24 horas por dia vai revelar muitas verdades, mentiras e cenas patéticas. Tudo ao jeito brasileiro, com uma pitada de melodrama e outras de malícia, sexo e humor. Um bom passatempo...
segunda-feira, 16 de abril de 2012
Que menina!*

Que coisas desastrosas são os maria-vai-com-as-outras. Há muitas pessoas desse tipo neste mundo! Eu, inclusive, já contara a história de um Juquinha-Piolho, fino representante dessa abundante espécie.
Agora, nesta fábula, o nome da personagem até coincide com o primeiro nome da alcunha popular dessa classe de viventes: chamava-se Maria.
Por causa da mania de não resistir a chamados e conselhos de qualquer um, já se metera em muitas confusões. Algumas tristes, outras hilariantes, outras ridículas, outras trágicas e, de vez em quando, se engamelava em algumas que eram o misto de tudo isso.
Certa feita, a pedido de um amigo, atirou água quente em um casal de cães que copulavam. Que coisa horrível e sem graça interromper coitos abruptamente, sobretudo os dos pobres animais que não devem respeito à moral alguma.
Em outra ocasião, a conselho alheio, cutucou, com uma vara curta e fina, o sob-rabo de uma égua que pastava tranquilamente. Recebeu, como recompensa, um coice nas canelas.
Houve um dia em que andou pelada pelas ruas, porque, pasmem, acreditou nas colegas que lhe juraram piamente terem vestido nela uma roupa somente invisível para quem a usava.
No ano passado, quase reprovou de série. Ficara trinta dias internada no pronto-socorro e outros tantos de molho em casa. Uma colega lhe aconselhara a fazer o jogo da “chicken”. Detalhe: ela estava de bicicleta e o oponente de caminhão. Quase virou pastel de galinha (não se avexem, não tomem galinha pelo que talvez vocês estejam pensando: a nossa menina não era dadivosa – é que, pelo jogo, quem saísse da frente primeiro, dando passagem ao outro, seria a galinha; ela, felizmente, para que a desgraça não fosse total, conseguiu, de último instante, curvar-se à direita e evitar o choque frontal; coitadinha! só quebrou as pernas e a bacia: coisa de somenos importância, nada que um ortopedista João-paulino não pudesse consertar).
Mas nada disso chegou perto do que ela, recentemente e pela última vez, fora capaz de fazer por conselho dos queridos amigos. Foi a Claudinha quem falou:
- Mana Maria, ontem assistimos um filme que um homem tomava um remédio e morria. Mas só por alguns minutos. Depois ele voltava à vida. Sãozinho em folha!
E convenceram a pobrezinha de que elas tinham conseguido a tal poção e Maria deveria tomá-la. Tadinha, nem sabia o que era o Auto da Compadecida.
- Veja, Maria, você toma o remédio e morre por alguns minutos. Vê nosso Senhor Jesus Cristo, fala com ele e pode até pedir algo de especial.
Se Maria falou com Jesus, não se sabe, pois notícia comprovada do outro mundo ainda não se teve. Mas, se conseguiu tal feito, o Nosso Senhor, usando uma expressão tão ao gosto do nosso Machado, deve ter dito:
- Menina, qualquer dia destes, dou-te um piparote. Vá ser jega assim na p.q.p.!
sábado, 14 de abril de 2012
Titanic: fatos e mitos

O fato a ser lembrado nesse mês é o centenário do naufrágio do Titanic, que teria afundado na madrugada do dia 15 de abril de 1012, portanto, nessa madrugada. Criou-se em torno desse fato uma teia de informações que ninguém sabe onde termina o fato e onde começa a imaginação. O primeiro mito é que o naufrágio do Titanic teria sido a maior tragédia marítima da história, com 1.514 vítimas. Não foi! O incêndio de a embarcação filipina Doña Paz matou mais de quatro mil pessoas em 1987. Então por que se criou tanto mito em torno do naufrágio do Titanic? Por que o fato é tão lembrado até hoje, se houve tragédias muito maiores? Talvez por que tenha afundado na viagem inaugural depois de colidir num iceberg no meio do Oceano Atlântico e com a presença de celebridades a bordo.
Na história, sabemos que todo acontecimento tem heróis e vilões. No caso do Titanic é o comandante do navio, Edward John Smith. Tudo bem que ele não se compara a Francesco Schettino, comandante do Costa Concórdia, que foi o primeiro abandonar o navio. Mas ele não é tão herói assim. Smith foi imprudente ao não diminuir a velocidade do navio mesmo recebendo informações sobre a presença de icebergs na região. Ao permitir que botes salva- vidas saíssem parcialmente ocupados, deixou de salvar a vida de pelo menos 500 pessoas, um terço das vítimas.
O vilão é J. Bruce Ismay, diretor da White Star, administradora do navio, que não permitiu que se acrescentassem mais 44 botes por causa dos custos e da estética, já que, nesse caso, os botes a mais teriam que ser alojados no convés da 1ª classe. Ismay não violou a lei ao não permitir esses botes a mais. A legislação britânica previa para navio do tamanho do Titanic a presença de 16 botes. Portanto, a navio estava com quatro botes além do que rezava a legislação. Mesmo assim, Ismay passou o resto da vida como pária e viajando incógnito em trens e navios.
Outro grande mito é sobre a quantidade de tesouros guardados no cofre do navio naufragado. Por ter muita gente endinheirada a bordo, acreditava-se que o cofre estivesse recheado de ouro, joias e dinheiro. Isso despertou a ambição de caçadores de tesouros. Se deram mal! Em 1987, diante das câmeras de uma equipe de TV dos EUA, o cofre foi aberto. Dentro dele apenas um bracelete de diamantes. A fortuna que o Titanic carrega não está nos seus cofres, mas na imaginação de quem quer lucrar de alguma forma com ele.
sexta-feira, 13 de abril de 2012
A casa da água – Antônio Olinto

Na maioria das vezes procuramos o livro para ler. Algumas vezes (poucas, diga-se) o livro te procura. Foi o que aconteceu com A casa da água, de Antônio Olinto. Achei-o por acaso numa banquinha de promoção num sebo. Uma edição antiga do Círculo do Livro que me custou R$ 8,00. É um livro fascinante! Mas as boas notícias não terminaram aí. Já ao término da leitura, descobri, por acaso, que ele é o primeiro volume de uma trilogia chamada Alma da África, cujo segundo volume é O rei de keto e o terceiro é Trono de vidro. Comprei-os imediatamente e deles falarei depois de lê-los.
A história começa em fins do século XIX, uma década após a abolição da escravidão no Brasil e atravessa 70 anos. Era uma época em que muitos ex escravos voltavam para a África e eram chamados de agudás. Catarina, ex escrava, resolve voltar à Nigéria, onde tinha sido vendida pelo tio, levando consigo a filha, epifania e os netos. Mariana, uma das netas de Catarina, é a personagem central do romance. Mulher de gênio forte e espírito empreendedor, torna-se uma rica comerciante com negócios nas colônias europeias no golfo do Benin.
O título da obra refere-se a uma construção em Lagos, na Nigéria, uma casa com poço artesiano feita por brasileiros. E é exatamente a partir de um poço que a fortuna de Mariana irá ser erigida. A trilogia Alma da África é consequência do tempo em que Olinto serviu o governo brasileiro como adido cultural na Nigéria e lá conheceu vários agudás. A casa da água foi escrito em três meses, entre junho e setembro de 1969. O livro apaixonante que revela todo o carinho e o interesse que o autor tinha pela África.
quinta-feira, 12 de abril de 2012
Desculpas eternas

O escritor alemão Gunter Grass (foto acima) publicou nessa quarta um poema em prosa com duras críticas à Israel. Intitulado O que é preciso dizer e publicado no jornal alemão Suddeutsche Zeitung e no espanhol El país, o poema diz que Israel com suas armas atômicas “coloca em perigo a paz mundial por si só já frágil”. O poema ainda denuncia eventuais ataques preventivos israelenses contra instalações nucleares iranianas como um projeto que poderá “exterminar o povo iraniano”. Diz que Israel dispõe de um “crescente potencial nuclear, fora de controle, já que é inacessível a qualquer inspeção”. Grass denunciou também o “silêncio geral sobre esse fato”, numa clara alusão à conivência das potências ocidentais com relação à Israel.
Grass, Prêmio Nobel de Literatura em 1999, admitiu em 2005 ter feito parte, aos dezessete anos e por nove meses, das Waffen-SS, uma tropa de elite do exército nazista. Na época da revelação, os judeus pediram a cassação do prêmio ao escritor, o que foi negado pela academia sueca. Claro que as revelações do passado potencializaram as reações ao poema e mais uma vez foi pedida a retirada do prêmio e mais uma vez a Academia Sueca negou, afirmando que a decisão de premiar Grass em 1999 esteve baseada nos seus “méritos literários”.
Não se discute que os crimes atrozes cometidos contra os judeus na Segunda Guerra foram abomináveis e não devem jamais ser esquecidos. Mas também não podemos passar o resto da eternidade pedindo desculpas e nos sentindo culpados pelo que aconteceu. As potências mundiais tratam Israel como um marmanjo que tudo pode por que teve coqueluche na infância. Após a segunda Guerra, cheios de culpa por não terem evitado o Holocausto, as potências vencedoras tentaram recompensar os judeus com um país independente, não se preocupando com outros povos que vivia na mesma área destinada à criação de Israel.
Até hoje esse país recebe proteção e apoio financeiro dos EUA. Tornou-se uma das nações mais bem armada do mundo e com um arsenal atômico desconhecido. E ninguém ousa apontar-lhe o dedo sob pena de ser chamado de antissemita. Não se ignora os perigos que os judeus estão sujeitos com os vizinhos que tem, mas já está na hora de pararmos de pedir desculpas e enquadrar o Estado de Israel nas mesmas regras a que outras nações estão submetidas.
quarta-feira, 11 de abril de 2012
Padre Cícero - Lira Neto

O jornalista cearense Lira Neto consumiu dez anos para escrever Padre Cícero: poder, fé e guerra no sertão. O resultado é um livro com uma leitura agradável, um texto envolvente e uma reconstituição histórica primorosa. Em alguns momentos acredita-se que se está lendo um romance, tal a pormenorização dos diálogos. Como o autor conseguiu reconstituir tais diálogos com tanta minúcia? Lira Neto contou com o acervo da Cúria do Crato, que tem mais de 900 e cartas e com uma fonte valiosa do Vaticano, que ele não revela.
Toda a polêmica envolvendo Padre Cícero, então um jovem sacerdote, começa em 1889, quando, ao oferecer a comunhão à beata Maria de Araújo, viu a hóstia sangrar. Com a continuação do fenômeno, médicos foram chamados e não conseguiram explicar o que estava acontecendo. Daí para a população de Juazeiro considerar milagre foi um pulo. Apesar de não ser religioso, Lira Neto não nega de forma taxativa esses eventos: “Algo aconteceu ali”, afirma. Suspenso das atividades sacerdotais pela igreja, que não aceitava tais eventos como milagrosos, Cícero se volta para a política, demonstrando sua capacidade de reinvenção e revelando sua sagacidade na hora de fazer alianças.
Além de Cícero, um homem sagaz e inteligente na hora de fazer alianças, mas pouco culto, o livro nos traz outros personagens curiosos. O primeiro deles é a própria Maria Araújo, negra, analfabeta e protagonista do “milagre de Juazeiro”, foi obrigada a se exilar de Juazeiro por ordem da Igreja. Depois de Cícero, o personagem mais intrigante é floro Bartolomeu. Sempre ouvi no curso de história que esse homem misterioso, de quem não se sabia de onde veio nem que fim levou, era usado por Cícero como testa de ferro nos seus projetos políticos. O livro dá a entender que Cícero foi usado por Floro na sua ambição de ganhar dinheiro e conquistar poder com o carisma do sacerdote e sua suposta capacidade de realizar milagres. Uma grande obra tanto para ser lida como lazer quanto como fonte de pesquisa.
terça-feira, 10 de abril de 2012
Esquerda, direita, volver

João Goulart foi derrubado em março de 1964 por que os militares queriam frear as reformas sociais que o seu governo estava fazendo com o intuito de aprofundar a democracia no brasil. O presidente tinha o apoio das esquerdas que, unidas, defendiam a manutenção do Estado democrático de direito e o respeito à constituição do país. Após o golpe, a esquerda passou a combater a ditadura militar e lutar por democracia no país. Todo esse parágrafo é tão falso quanto uma jura de amor de pau duro.
A esquerda brasileira não apoiava o governo de João Goulart. Preferia-o a uma ditadura militar. Portanto, o governo Goulart era um mal menor. Ou um inimigo mais fácil de ser derrotado. Se o fraco e incompetente João Goulart não tivesse sido deposto pelo golpe militar (golpe, não revolução), teria sido deposto por um golpe da esquerda (golpe, não revolução), se ela tivesse força e unidade para isso. Aí teríamos uma “ditadura do proletariado” que, como o nome diz, não é uma democracia.
A esquerda é tão democrática que tentou impedir que militares comemorassem o aniversário de 48 anos do golpe militar no mês passado. Sábado passado, divulgaram o endereço do legista que assinava atestados de óbitos falsos para justificar as mortes de presos políticos. Por que eles não fazem o mesmo e denunciam os asseclas dos barbudos cubanos que a mais de meio século estão fossilizados no poder na ilha caribenha?
Agora tentam criar uma tal de Comissão da Verdade para reabrir processos que apurarão crimes cometidos durante a ditadura. Mas apurarão os crimes cometidos pelos militantes de esquerda também (assaltos, sequestros e assassinatos)? Aaaaah, mas esses crimes foram cometidos em nome da causa, para combater um governo autoritário! Os crimes dos militares também foram cometidos em nome da causa. Da causa daqueles que acreditavam que o comunismo tinha que ser combatido por que era uma ameaça para o país.
De que lado está a verdade? Para os dois lados, a verdade está do seu lado.
segunda-feira, 9 de abril de 2012
O mico

Tenho muitos conhecidos, mas com o Marcinho tenho uma identificação muito grande. Não me pergunte por que, pois somos quase o oposto um do outro. Ele é aquele cara que fala muita abobrinha, eu sou meio caladão. Ele bebe de segunda a segunda se não precisasse trabalhar, eu sou mais contido no quesito álcool. E a maior das diferenças: ele pega todas as mulheres (ou pelo menos diz que pega), eu namoro pouco, mas faço minhas estripulias de vez em quando.
- Lembra da fulana? Aquela gostosa que chegou na nossa mesa sábado passado? Peguei! Gata, né? – eu ouço isso sempre que me encontro com o Marcinho.
E o que mais detesto é que ele fica esperando a confirmação de que a gata com quem ele ficou é estonteante. É a mesma pergunta no final de cada frase: “É gata, né? Hein?” Na maioria das vezes é mesmo. Mas precisa ele ficar me torturando? Só por que eu não fico com uma ínfima quantia das mulheres que gostaria e ele fica ou, nunca custa nada repetir, diz que fica? Eu odeio esse “hein” dito incontáveis vezes até que eu confirme que realmente a garota é muito bonita.
Nos encontrávamos quase todos os finais de semana. Não vou repetir que ele sempre conta alguma aventura que teve no meio da semana com alguma mulher que nós vimos no final de semana anterior: É gata, né? Hein? Hein? Para meu deleito, às vezes ele fracassava nas suas conquistas. Mas ele não me contava, ficava sabendo por outras pessoas.
Mas quero deixar bem claro que não havia competição entre nós. Eu não tinha como competir com ele!
Mesmo com essa irritante capacidade de conquistar (que eu não tinha), eu me identificava com ele. Gostava de sair com ele para as farras. Falo sempre no passado por que já faz muito tempo que tudo isso aconteceu.
Num certo final de semana, Marcinho me chamou pra um churrasco na casa de um conhecido dele. Eu conhecia o dono da casa apenas de vista. Fomos.
Quando cheguei no churrasco, olhei todos e percebi que, a exceção do dono da casa, não conhecia ninguém. Mas me detive numa criaturinha de pele branca, cabelos longos e lisos. Devia ter uns 18 anos. Na época, eu tinha pouco mais do que isso.
- Quem é aquela ali de blusa branca? – perguntei ao Marcinho.
- Sei lá! – Respondeu-me e já entrou numa conversa com outra pessoa que estava na mesa conosco. Ele adorava fazer isso: não dá a mínima quando eu manifestava interesse por alguém. Quando isso acontecia com o cafajeste ele ficava naquele “hein, hein?” irritante.
Ela tinha uma criança no colo, que dormia. Devia ter entre seis e oito meses o bruguelo. A julgar pela pequena barriga que ela possuía, o filho deveria ser dela. A julgar pela mesma barriga, fruto do parto recente, deveria ter um corpo e tanto antes da gravidez.
Continuei a observá-la. Ao lado dela estava um senhor de cabelos grisalhos, visivelmente embriagado que ficava mexendo nas mãos da criança adormecida e encostando a cabeça no ombro da mãe .
Lá pelas tantas, eu já estava mais pra lá do que pra cá depois de muita cerveja. Como a maioria das pessoas já tinham ido, todos ficaram numa roda em torno de uma mesma mesa, inclusive a minha musa.
(vou abrir esse parêntese para dizer que, depois de algumas cervejas, eu facilmente encontro musas, por quem nutro um amor eterno até que o efeito da cerveja passe).
Voltando. O senhor de cabelos grisalhos continuava ao seu lado brincando com a criança (agora acordada). Percebi que a cadeira do outro lado estava vazia. Resolvi colocar em funcionamento meu dispositivo de conquista (uma decisão infeliz, descobri depois).
Sentei-me ao seu lado e lancei na sua direção um sorriso mal disfarçadamente desinteressado.
- Oi. Tudo bem? – falei.
Ela apenas sorriu um sorriso sem graça. O senhor, com sinais indisfarçáveis de embriaguez, continuava brincando com a criança. A cara dela era de quem estava incomodada. Ou seria eu, também meio embriagado, que queria que ela estivesse incomodada para que pudesse dá uma de herói?
Foi nessa hora que tomei outra decisão infeliz. Inclinei-me para bem perto dela e sussurrei:
- Esse senhor está incomodando você? Se você quiser eu posso colocar a minha cadeira entre ele e você. – falei com aquele ar de herói.
Ela me olhou como quem olha para um misto de imbecil e débil mental.
- Ele é meu sogro.
sábado, 7 de abril de 2012
O photoshop a serviço da fé

Veja a imagem acima. Na foto da esquerda, o patriarca da Igreja Ortodoxa russa, Cirilo I aparece ostentando um relógio suíço Breguet, avaliado em R$ 58 mil. Na foto da direita, o relógio desapareceu como por milagre divino. O problema é que o “santo” que fez o “milagre” esqueceu de apagar o reflexo do relógio na mesa. A preocupação da Igreja Ortodoxa com o relógio não é gratuita: mostra aos críticos que o patriarca não vive uma vida de austeridade que ele recomenda para os seus seguidores. Nada original o patriarca.
Sem contar que Cirilo I tinha desafiado seus críticos dizendo que quaisquer fotos que surgissem mostrando um relógio no seu pulso eram meras falsificações. O que não falta na vida do patriarca são críticos. Principalmente pelo apoio que ele deu ao presidente russo Vladimir Putin nas últimas eleições. O patriarca afirmou que os 12 anos de Putin na Presidência da Rússia foram um “milagre de Deus”. E esses críticos provaram que a foto foi manipulada. Nada original o patriarca.
O patriarca Cirilo I não está nem um pouco sendo original por que essa é uma prática inerente às religiões. Aliás, elas são criadas para isso. A religião, qualquer uma, é por definição a fé manipulada. Por definição e objetivo. Qualquer religião, em qualquer época e em qualquer lugar. Se Deus (na sua divina sabedoria) se importasse conosco, jamais teria nos dado a religião. Não me surpreende a postura da Igreja Ortodoxa e seu líder. Essa é uma prática generalizada. A voz que mora em mim não cansa de perguntar: Alguém já viu um grande líder religioso viver na austeridade aconselhada aos seus seguidores? Nisso o patriarca Cirilo I também não é nada original.
sexta-feira, 6 de abril de 2012
Casa de encontros – Martin Amis

O livro Casa de encontros, do escritor inglês Martin Amis, é uma obra de ficção escrita a partir de pesquisas que o autor fez para escrever um ensaio sobre Stálin. A narrativa tem a forma de uma carta escrita pelo protagonista, em 2004, para sua filha nos Estados Unidos. Ele está voltando à Rússia depois de décadas de ausência para morrer. O livro critica as dimensões obscuras do totalitarismo soviético no período comunista. Mas as críticas do autor não ficam apenas na ex URSS. Sobra também para a Rússia moderna, ou nem tão moderna assim, na visão de Amis.
O narrador e protagonista é um ex preso de um campo de concentração para dissidentes da ex União Soviética. A razão para a sua prisão não fica muito clara, uma vez que qualquer motivo era motivo. Seria ele um herói? Nem um pouco. Soldado na II Guerra Mundial, estuprou várias mulheres quando seu país invadiu a Alemanha. Depois que saiu da prisão, transformou-se em traficante de armas e ficou rico vendendo-as para o mesmo estado que o submeteu à fome, à tortura e à escravidão.
A história de desenvolve a partir de um triângulo amoroso (o narrador, seu irmão Liev, também prisioneiro no campo de trabalhos forçados, e Zoya, uma bela intelectual judia e liberal). O título refere-se ao local em que os prisioneiros recebiam suas esposas para encontros conjugais. Foi lá que Liev recebeu Zoya para uma noite de sexo que mudou a sua vida para pior. Com a relação manchada pelo ambiente do gulag, o casamento acaba depois da liberdade de Liev. Amis parece ser russo tal a familiaridade com que trata os assuntos do país. Um bom livro.
quinta-feira, 5 de abril de 2012
Sou contra a copa no Brasil

Sou apaixonado por futebol. Sou do tipo que não precisa saber quem está jogando. Eu assisto ao jogo. Acho a copa do mundo não apenas o maior espetáculo esportivo do mundo, mas o maior espetáculo do mundo. Apesar de toda essa paixão pelo futebol, sou contra a copa do mundo no Brasil, nos termos que a FIFA quer. Tenho o sonho de assistir uma copa do mundo e 2014 seria uma ótima oportunidade. Mas sou contra essa copa. A FIFA não faz copa para torcedor, faz para turistas que não sabem diferenciar um impedimento de um lateral, um bandeirinha de um gandula. Mas tem dinheiro!
Não se discute que o evento traz benefícios para o país que o sedia, como melhoria no setor hoteleiro, nos meios de transportes, nas comunicações. Mas as exigências que a FIFA faz relacionadas às novas arenas vão deixar alguns estados com elefantes brancos inoperantes. Ou você acha que o futebol do Distrito Federal e estados como Mato Grosso e Amazonas têm público para encher um estádio com capacidade para 60 mil pessoas? Estima-se que o investimento será de R$ 25 bilhões. Repito: ganharemos em infraestrutura, mas herdaremos várias obras inúteis. Concluo que os prejuízos serão maiores que os benefícios.
Sem contar as exigências que a FIFA faz para trazer o evento para cá. Algumas delas ferindo a legislação brasileira, como a discussão sobra a venda de bebidas alcoólicas nos estádios. O Estatuto do Torcedor proíbe tal comércio, mas isso não é do interesse mercantilista da entidade máxima do futebol. E vontade de ganhar dinheiro não encontra obstáculos para os dirigentes da FIFA, que queriam que o governo brasileiro assumisse toda a responsabilidade civil do evento, ressarcindo a entidade de eventuais prejuízos independente da culpa. Não conseguiu. Mas os lucros não serão divididos. O que é meu é meu, o que é teu é meu também.